Tuesday, April 13, 2010

Sunday, April 4, 2010

Euromilhões ...

Se há história recente que nos mostra de que tecido é feito o fato que nos cobre a pele, essa é a história do Luís e da Cristina, o famoso ex-casal de namorados de Barcelos que discutem em Tribunal o maior enigma da Humanidade: por que ficar com um prémio de 7,5 milhões de euros, quando se tem a oportunidade de ficar com 15 ???...

Este não será propriamente o caso mais flagrante de estupidez ou de ganância, dois adjectivos tão postos em prática nos dias que correm ...

O que realmente me impressiona nesta novela toda é a atmosfera por detrás destas duas vidas … e de tantas outras da mesma geração.
Namoravam, não tinham planos para o futuro (nem a dois, nem a sós) … nunca tinham pensado muito bem no que iria ser o seu amanhã …
Apenas ansiavam em arrastar-se em casa dos pais - com tecto, comida na mesa e roupa lavada sempre garantidas - até de lá serem empurrados …
Não deviam sequer saber o significado da palavra independência … ou do que são perspectivas …
Caiu-lhes o Euromilhões em cima e eis que olham para aquele dinheiro todo como se olha para a TV Cabo: poderiam viver sem ele, mas não era a mesma coisa …

Mas, com ou sem prémio, tudo se mantém: a falta de objectivos, a ausência de planos, a inexistência de uma ideia de rumo a seguir … apenas um enorme vazio ao olhar para o seu horizonte …

Apenas algo me deixa consolado nesta história …
Luís e Cristina estão muito bem um para o outro
Deviam casar-se e ser muito felizes

E entretanto, enquanto Luís e Cristina perdem anos das suas vidas a discutir quem escolheu a chave ganhadora, quem preencheu o boletim e outros enigmas do mesmo género, há um conjunto de advogados e de malta dos Bancos a tratar-lhes do seu dinheiro … e da sua vidinha …

Ao lembrar-me desta história, apenas consigo pensar neste verso de uma música dos Ritual Tejo:

Há algo de senil em mim
Que já não me deixa lembrar
Há quanto tempo foi o fim
Ou se cheguei a começar