Unanimidades
é coisa em que não acredito ...
Amália,
Eusébio
(não as lontras),
Manoel de Oliveira ...
personalidades
de quem ninguém se atreve a criticar
e de quem todos elogiam
a carreira,
o carácter,
a honestidade,
o profissionalismo,
o patriotismo,
e tudo mais ...
Mas hoje só falo
de Manoel de Oliveira.
O realizador portuense
é notícia esta semana,
pois chegou aos 100 anos.
E nestas coisas,
como já é habitual em Portugal,
toda a gente chegou-se à frente
para dar os parabéns
ao centenário realizador de cinema
e a toda a sua obra.
O senhor,
evidentemente,
aproveitou a onda
e desdobrou-se em declarações,
entrevistas
e homenagens,
para ganhar mais uns minutos de fama
e para chamar a atenção aos nossos governantes
para o "santo subsidiozinho",
pois estas coisas de fazer filmes
é bastante cara ...
Apenas pergunto,
de entre esta gente toda
que andou a venerar o homem
durante esta semana,
quantos viram mais do que 5 minutos
de qualquer dos seus filmes.
E já agora,
qual o número de espectadores
dos seus filmes ...
muito poucos, acredito!
E isto leva-nos
à velha questão da justiça
dos apoios estatais ao cinema português ...
Se o filme é popular,
é porque é mau
(sim, porque o tuga só gosta do que é de baixa qualidade ...).
Se é bom,
merece um subsidiozinho,
os críticos aplaudem,
os actores,
produtores
e realizadores
agradecem a esmola,
o povo não quer saber ...
E anda toda a gente feliz ...
Se o filme é fantástico
é porque é do Manoel de Oliveira
ninguém o vê
ninguém conhece o argumento
ninguém o entende
mas o "Santo Estado"
dá uma gorda comparticipação
ao realizador centenário
ele fica contente
os críticos adoram
o povo não percebe
...
mas acham todos muito bem ...
Ou seja,
o público cinéfilo é estúpido
os críticos são brilhantes
os realizadores são todos maus
excepto o Manoel de Oliveira
e os tipos que distribuem os subsídios
são ainda mais brilhantes
pois dão a maior parte da esmola
ao centenário realizador
afinal de contas
o gajo mais esperto desta gente toda
